Oi Dona Coruja, posso me sentar aqui?
Sinto-me impelida a escolher um dos lados do muro para não me sentir alienada, mas acho vou ficar aqui junto à sua tão simbólica figura de sabedoria. Daqui de cima, consigo enxergar os dois lados.
Consigo ver todos os erros do PT, a vergonha que fico dos discursos da Dilma, o embrulho no estômago que sinto da hipocrisia do discurso de Sassá Mutema do Lula, as manobras de transformar aquele que está sendo investigado em ministro só para não ser preso, o desespero com a economia em frangalhos e o susto que me dá sempre que me falam dos preços que estão sendo praticados no Brasil, o descaso com Mariana e a impunidade da vale.
Também vejo uma manobra nojenta de golpe para tomar o poder da forma mais não democrática possível. Vejo sujos falando dos mal lavados como se estivessem com cheirinho de bebê johnson. Vejo pessoas que sequer assumem a própria careca e ficam usando táticas que só posso chamar de adolescentes como vazamento de cartinhas e whatsapp “vazados”. Vejo um processo de impeachment liderado como resposta vingativa àquele que foi denunciado.
Vejo tanto oportunismo e manobras ardilosas como verdadeira paixão e amor à pátria de ambos os lados. E é justamente por isso que me mantenho aqui, de cima.
E é daqui do alto do muro que brado justamente contra essa separação que temos entre nós que, para mim, é tão absurda como uma célula do meu dedão do pé achar que não tem conexão alguma com meu fio de cabelo.
Há muros entre cada um de nós. E não falo só da situação política. Religiosos e ateus, machistas e feminazis, homofóbicos e gays, negros e racistas. Enquanto dermos força à dualidade, resssaltarmos a diferença, não nos veremos como um só.
É isso. Só saio de cima do muro quando o derrubarem. Quando conseguirmos enxergar verdadeiro inimigo comum e construir o país decente que merecemos. Reforma política. Fim da corrupção. Fim do jeitinho.
E, principalmente, um fim ao achar que aquele que tem opinião contrária à minha está errado.
m i l e n i c e s 